sábado, 25 de maio de 2013

Um breve relato sobre Homofobia

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"O tempo está fechado, mas arco-íris e novos AmanheSeres hão de vir"     
                                                                                   VCS

Eu já me compliquei pelo fato de me expressar contra alguns tipos de preconceitos, sejam eles explícitos ou implícitos. Em “alguns dos meus ambientes de  trabalho”  alguns não gostam de mim e mal me cumprimentam (pelo fato de alertá-los sobre o machismo e a opressão das xícaras sujas de café deixadas para a “tiazinha lavar”; ter que explicar pessoalmente o porquê não chamar as pessoas que têm relações homoafetivas de “veados”; etc). As pessoas que passam pelos mais variados tipos de problemas, em especial questões como a não “aceitação social” e preconceitos, e/ou as pessoas consideradas “outsiders”,  acabem tendo uma outra visão do mundo, acabam percebendo o que está presente nas entrelinhas dos comportamentos alheios e tendo posturas mais críticas frente aos fatos. Quando você vive com o dilema de que a sua felicidade (ou a busca do sentido de sua vida) afeta e influencia diretamente a felicidade dos seus mais próximos, quando “o você querer ser feliz” quebra as expectativas e acaba sendo uma decepção para membros de sua comunidade, os conflitos gerados com os meros indivíduos do seu cotidiano acabam sendo “água com açúcar”. Gente, o momento da minha vida mais difícil em relação a isso tudo foi em relação a minha família (especialmente minha mãe), tá as coisas não se resolveram (apesar dos anos), mas a transparência é um dos primeiros passos. Todo parto doi. Então não há porquê se calar diante dos preconceitos, temer olhares tortos e pessoas virando as costas quando você diz a “verdade”. Tento acreditar que as pessoas erram mais por causa da ignorância do que pela maldade (como diz o Padre Fabio de Melo), mas acontecimentos como o descrito abaixo faz eu ter minhas sérias dúvidas. Mas vamos ao relato.

Relato de Homofobia: medo e violência NÂO, coragem e imposição SIM

Na última quinta-feira (23/05/13), eu resolvi dar uma passadinha rápida no evento que ocorre no espaço da ECA intitulado “Quinta & Breja”. Estava simplesmente sendo um dos componentes de um casal bonito e feliz, o que deve ter causado inveja alheia, e fomos alvo de atitudes homofóbicas (Veja o relato bem mais completo do fato logo abaixo   feito pela outra pessoa e já postado em outros grupos). Em resumo, nós dois não nos calamos e fomos conversar com os 05 (cinco cínicos, cínicos cincos) agressores. A partir disso cheguei à seguinte conclusão: Nem sempre quem está no controle da situação é o OPRESSOR. Ir até eles, indagar sarcasticamente se eles viram quem foram "os idiotas" que tinha tacado as latinhas, evidenciar para eles que sabíamos que eram eles e para aquilo não acontecer mais, ver eles não tendo argumentação alguma quando começaram a falar que nunca tinham visto um casal de homens, ver um ficar nervoso enquanto aparentemente demonstrávamos calma, avisar os seguranças (que devem ter ido conversar com eles, pois foram embora logo em seguida),  irmos embora da festa minutos depois sem se "preocupar de fato" se eles estariam nos esperando ou não, ISSO TUDO,  foi um começo para mostrar para eles que nem sempre aqueles que eles consideram como "vítimas ou fracos" vão se esconder ou temer... No plano intelectual a situação se inverte e eles acabam se sentindo como verdadeiros perdedores, pois o que eles mais queriam não foi alcançado: INTIMIDAR OS ALVOS DE SEUS PRECONCEITOS. O medo é o que alimenta essas  pessoas homofóbicas. Não posso negar que qualquer briga que poderia ter ocorrido, ela seria mais facilmente resolvida, devido ao fato de estarmos em um ambiente universitário: as  pessoas correriam para nos ajudar. Mas infelizmente isso deve ser exceção, pois a USP, supostamente considerada uma “ilha”, ainda permite um desconforto bem menor em relação a não termos que temer a homofobia, caso formos compararmos com o além dos muros do campus.
                                                                                                       Vanderson Sousa


Relato completo realizado pela outra pessoa:

"Ocorrência infeliz ontem na QiB. Estava eu com o boy mistério abraçado, conversando de pé na esquina ao lado de fora do prédio do CA (não sei o nome exato daquele prédio, chamarei assim). Voou uma lata de cerveja, cheia, caindo no chão e estourando a uns 30cm da gente; o fato de ela estar cheia impede que tenha sido simplesmente um acidente, até porque eu vi a lata vindo pelo alto e, pela curvatura que fez no ar, entendi que fosse um grupinho de caras que estava a uns 3 metros da gente, ao lado das árvores (dsclp, meu sangue de IME não pôde evitar fazer essa conta). 
Enfim. Nós dois olhamos para aquela direção procurando alguém que estivesse nos encarando, mas ninguém chamava atenção em especial. Aí entrei no prédio, avisei uma garota do CA e ela pediu que o segurança desse mais atenção àquela área (realmente, não havia nenhum segurança por lá até então), para evitar que aquilo ocorresse com mais alguém. Ok, ótimo. 
Então voltamos para o mesmo lugar, mas um dos caras daquele grupinho começou a nos encarar às vezes e eu ouvi um "ô, viado, vai pra casa!". Mas continuamos de boa ali por poucos minutos, até voar mais uma latinha (que errou de novo, 2bj) e depois um pedaço de "pão" (não tenho certeza do que era aquilo, tinha aspecto de pão e estava molhado, mas nem me sujou nem deixou cheiro). Vale notar que eu não vi nenhum segurança por ali, de novo, mas nem me ative demais a isto. Agora enfim a gente sabia quem atirou. 
Aí fomos falar com o cara, eu bem nervoso já, e perguntamos se eles viram quem atirou as latas, afinal alguém assim deveria ser mesmo muito idiota pra tentar impedir a inofensiva alegria alheia. Eles tentaram desconversar mas, como a gente continuou falando, eles começaram com uns xingamentos que não merecem ser repetidos. Mas, um detalhe importante: ao tentarem desconversar, eles deixaram claro que não são da USP! 
Depois de cerca de um minuto os provocando e vendo que eles tinham plena certeza de que aquilo que faziam era correto, nós saímos de lá perto, e eu voltei ao CA para avisar não só que havia ocorrido de novo, mas que sabíamos quem eram os imbecis, e demos as indicações sobre onde estavam, e dissemos ser um grupo de 5 caras. 
Bem, quando eu me acalmei um pouco e saí do prédio, eles não estavam mais naquele local, e fomos embora; mas não tô a fim de deixar a história parar por aí. 
Já há algumas semanas que tenho ouvido a mesma história sobre gays ou caras de saia tendo latas ou garrafas arremessadas contra si na QiB; aconteceu inclusive com amigos próximos meus, e eu já estava ficando bem puto com isso. 
Agora eu sei quem são, me lembro dos rostos, e não duvido nem um pouco que sejam sempre os mesmos caras em toda edição da QiB, afinal é uma onda de ocorrências que só de um mês pra cá eu tenho ouvido falar; ou seja, é gente querendo mesmo botar terror sobre os não-hts. 
A gente vai parar de frequentar o mundo mágico da ECA por causa disso? É óbvio que não. O que eu proponho é que justamente a gente crie ainda mais pressão presencial lá, e mostre que o espaço é nosso também. E, se acontecer de novo com alguém, que o atingido chame os amigos que houver por perto. Vamos fazer uma roda em torno dos infelizes, cantar Sarajane e fazer um grande tchu-tchu neles, para se sentirem amados e ver se conseguem se tornar pessoas melhores um dia, né. Ou, se eles apenas se virem em minoria, sentirem-se deslocados e irem embora, já é uma vitória também. Só não tô nem um pouco interessado em deixar uns babacas assim soltos e prontos para atacar amigos meus. 
Bem, é isto. Já foi, mas eles estão por aí. E a camiseta que eu estreei ontem, pintada com um grande "Why u hatin?" no peito, continua fazendo todo o sentido." 

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*fotos tiradas em Brasília, maio de 2011, pela aprovação da lei PLC 122

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