sexta-feira, 14 de junho de 2013

Ratos & Pombas*

 - um relato real do ocorrido na manifestação contra o aumento da passagem 13/06/13



A cavalaria estava tensa. Além da comoção que tive pelos valentes humanos, que estavam sentados ao meu lado em frente à tropa (tentando re-acreditar que não haveria violência), também me comovi  pelos cavalos de quatro patas. Estavam todos agitados, sem saber o que estava acontecendo, visivelmente oprimidos. Os cavalos bípedes, armados e mal amados, mal conseguiam controlar os pobres seres. Uma simples faísca faria que eles corressem em disparada. Correriam, assim como nós correríamos em um jardim pisando nas flores, sem ao menos poder pedir desculpas para elas. Pesadelos, assim como os sonhos, podem ser vividos enquanto estamos acordados. Bombas em frente à um Hospital Infantil: deve ser a mais nova tática para  prevenir uma nova juventude, pois esta já está dando muito trabalho. Em uma das ruas que cruzam a Consolação,  os " (in)sanos animais  manifestantes" tentavam orientar um pai com uma pequenina criaturinha em seu colo para que eles alcançassem a portaria do hospital. A semente de uma nova florada precisa ser regada, se não ervas daninhas continuaram a comandar o nosso espaço. É, a juventude "Comigo-Ninguém-Pode" aprendeu a lutar como a "Espada-de-São Jorge", alguns com Margaridas e Rosas não mão. Enquanto os mantenedores da paz atiravam bombas entre  carros e  ônibus repletos de trabalhaDORES, pois eles precisam de proteção (não?), os muitos "ogros sangrentos pelo caos" e ateadores de lixos nas ruas corriam....  e corriam muito... corriam para dizer aos passageiros encurralados nas "caras ratoeiras" fecharem as janelas. O gás não é letal, diz a segurança pública. Problema é de quem inala ele, quem manda ser mortal !. Os manifestantes, treinados pelo Osama, se agitaram muito, e como.  Se agitaram para acudir uma senhora desesperada em seu carro. Esses (in)conscientes baderneiros estavam querendo ajudá-la a manobrar o carro, para  colocá-lo na calçada, enquanto outros, que mal-educados!, GRITAVAM com a pobre idosa. Esbravejavam: "minha senhora, é melhor sair, a gente te acompanha para alguma portaria". Enquanto isso os cães de farda protegiam alunos do Mackenzie não deixando eles sairem dos prédios, seria para a proteção deles ou medo de aumentaram o número de protestantes? Como esses "rebeldes jaborianos sem causa e que não valem 20 centavos" puderam ter a capacidade de causar tanto preJUÍZO aos demais cidadãos. Retrocedendo no relato (os "sonhos" são assim né?  vamos relembrando eles como uma quebra-cabeça): bem  no início do primeiro confronto da Consolação um taxista deve ter ficado muito inDIGNADO. As fumaças e os grandes "estouros" das bombas de efeito MORAL, esses sim os únicos democráticos!, subiram pela  avenida se oferecendo a todos os viventes, sem escolha de classes, de etnia, de  religião ou de orientação sexual (aprendam com eles senhor@s Felician@s). A pacata passageira do táxi, que nunca mais ouvirá o velho sucesso musical da Angélica, abriu a porta do carro e correu procurando abrigo no Posto de Gasolina... Há, mas ela foi para o covil dos  "delinquentes". Muitos transeuntes também foram para a cilada.  Um verdadeiro barril de pólvora, onde os "marginais manifestantes amedrontados", e já desacreditados no bom senso dos racionais bípedes, entoavam: "Saiam daqui, saiam daqui, a polícia vai atirar aqui...". Ainda bem que não houve, além da psicológica, nenhuma grande EXPLOSÃO. Os violentos protestantes, aos milhares, até que são solidários, sabia?. Nos momentos mais tensos os "armamentos" eram distribuídos para todos: "obrigado ao tal Chico da biologia USP que me ofereceu gentilmente um pouco seu vinagre". Sim! Havia ARMAS QUÍMICAS entre os rebeldes: uma perigosa solução aquosa com 7 à 8% de ácido acético, utilizado também nas saladas preparadas pelas mães dos policiais. As (possivelmente) simpáticas senhorinhas protegem seus filhos opressores contra as  bactérias. Eles precisam estar fortes e saudáveis para a batalha. Os oprimidos se valem da mesma tática "vinagrenta": mitigam os efeitos dos gases das bombas que queimam a pele e irritam seus olhos. E como houve lacrimação, ao menos os "Spartacus" puderam deixar suas lágrimas rolarem a vontade, ninguém saberia mesmo separar a irritAÇÃO fisiológica das verdadeiras lágrimas de tristeza. Diz a velha canção: "lágrimas são o suor de almas que lutam só".  Realmente, nesse caso todos os "kamikazes" (sem medo da forte Tropa de Choque) eram todos um só. Um emaranhado de fios unidos por uma causa, como uma teia de aranha. Todas as lágrimas unidas, assim como o suor do corre e corre, formaram na noite de ontem um único e grande rio contra as grandes ondas de repressão. Todos eram como as corajosas abelhas brasileiras sem ferrão, defendendo o direito de se expressar, sem temer as vespas fardadas com suas bombas de efeito moral. Moral para quem?  Os cristãos que nos observavam curiosos (ou aflitos?) da Igreja da Consolação viram na  rua (e na prática!) a famosa frase do altar se concretizar: "amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida" Assim agiram os "(in)sensíveis manifestantes": na pacificação e na correria, nas ruas e nas calçadas, com flores e com bandeiras, TODOS SE AMARAM, enquanto os repressores se aRmaram mais ainda. Os membros do "caótico bando" " foram dispersos (uma, duas, três vezes!). Mas iam se reagrupando, pelas ruas paralelas. Alguns caíram pelo caminho. A imprensa e a estatística conservadora relatam 195, 200 (hum? ! ?, sei). Corpos caem,  mas o espírito de luta continua. Uma verdadeira, pena que não derradeira, caçada. Após impedirem as milhares de vozes marcharem em direção à Avenida Paulista (não é só o PCC que dá toque de recolher no coração financeiro do país) a Rua Augusta foi tomada por putos e putas, ainda aos milhares (ACREDITEM!). Milhares de Put@s com a violência que insiste em ser abafada e negada: a violência do aumento, a violência da repressão, a violência dos conclaves políticos e empresariais. Uma menininha dormia no colo da mãe que estava dentro de uma perua presa no meio da Augusta, dormia como um anjo, nem se incomodou com a manifestação. Mas os "diabos de farda" estavam à solta. A Tropa de Choque, e que choque!, um verdadeiro paredão cinza que ofuscou as coloridas fachadas da alta Augusta, desviou novamente os manifestantes para a Consolação...  Round 2!... Booommm... Dessa vez os "Toms"  estavam mais truculentos que o normal, verdadeiros "cães raivosos" que se esqueceram de comparecer na última campanha de vacinação. Os "Jerrys" em sua maioria escaparam, sequelados cada um à sua maneira, mas escaparam. A fome por justiça  toma conta de suas vísceras e isso faz com que eles se sintam mais fortes, é o instinto biológico. Na natureza se o predador perde a batalha, ele perde o jantar; no caso das presa ela perde a vida. Os ratos estão cansados de verem suas vidas minguando em conduções & condiçoes deprimentes após jornadas que mal pagam suas coalhadas. Porque provolone é só para quem pode. Há,  ainda tem: "Essas ratazanas imundas que vêm sujar o nosso centro, revirando o nosso lixo e espalhando-o pelas ruas", vibrações sonoras que fazem vibrar os bigodes dos gatos burgueses. Como se algum dia eles pararam para se preocupar  com o destino de seus resíduos (apenas 5% do lixo reciclável tem o seu correto destino, um verdadeiro estupro ambiental e social). Dois pesos, duas medidas. Amo quase todos os seres. Amo os cavalos quadrúpedes, mesmo violentados pelos "macacos top-top". Amo os milhares de ratos que foram acordados e saíram  de suas tocas por estarem cansados de serem oprimidos pelo Estado. Mas repudio os fedidos felinos protegidos por seus cães de guarda. Miam nas campanhas com  olhares "gato de botas do Shrek" pedindo votos e prometendo democratizar o queijo. Depois mostram suas afiadas garras e impedem um "justo ir e vir" das massas que precisam ir ao milharal. Propagandeam que as manifestantes estão lutando contra míseros 20 centavos. Mas isso foi apenas mais uma das centenas de grãos de milho do grande sabugo de problemas e opressões que a tempo precisavam ser escancarados. Além disso eles se esqueceram de uma grande coisa: os ratos ganham asas, viram pombas, sonham, lutam, bicam, voam. Mais que incomodas pombas urbanas, simbolicamente se tornam verdadeiros "Fênix renascidos das cinzas".... Renascidos das cinzas da opressão....

                                           * ofereço esse texto à  minha minguante MARGARIDA. Ela foi colhida de sua vida não para se definhar entre as mãos de um casal de namorad@s, mas sim em meio à toxiCIDADE da opressão! Obrigado por me acompanhar...

   Vanderson Sousa

Nenhum comentário:

Postar um comentário